No piano de uma vida...

(Coloquem a música e deixem-se levar pela história de uma vida)
Permanece sentado naquela sala conhecida de ti, naquele recanto que era nosso antes do sol se pôr no horizonte para nunca mais voltar a se erguer. Vejo as rosas a morrerem, a secarem e a caírem as primeiras pétalas neste chão frio, não sei se apenas se perdeu o amor, se esqueci-me do coração ou apenas tu levaste ele contigo. Hoje encosto-me a esta cadeira, a este pedaço de nada que ainda me resta, que ainda tem o teu cheiro, a tua presença agarrada, como se de uma prisão da memória se tratasse, como se apenas fosse esta a tua única existência alguma vez sentida nesta casa sem vida. O sol nunca mais voltou a passar por estas vidraças, o sol nunca mais chegou as flores que um dia plantaste nesta terra que já nem fértil é. Foi o perder de um amor, foi o romper com cada sonho sonhado, com cada sentimento que aqui ficou perdido, que tu apenas levaste contigo na hora em que me abandonaste para te entregares a esse mal que a vida te deu, a esse contratempo que o destino te colocou. Queríamos tudo e não tivemos nada, queríamos o céu e apenas nos deram um pedaço de terra onde depois acabaram por nos tirar o chão que pisávamos, o castelo que tão difícil e arduamente construímos. Estou despido de tudo, estou entregue a este tempo que me prende aqui, não sei porquê, nem sei para quê. Queria ter contigo, queria apenas ir ter connosco, porque ficaste com tudo e eu aqui com nada, não me falem em vida porque no final de contas já nem a sei viver, não me falem de sorrir porque nem me lembro da minha ultima gargalhada, falem-me apenas de amor, porque esse continua aqui cozido na minha pele, preso a mim sempre que recordo cada episódio, cada vontade, cada projecto que o mundo nos roubou, que o mundo me roubou. As minhas mãos ainda conseguem deslizar pelo piano que me ofereceste, pelas teclas gastas de um ensinamento que um dia tive o dom de receber de ti. Tocavas tão bem sabias? As tuas melodias invadiam-me a memória, faziam-me sonhar. Eu toco, eu sei que toco, mas não como tu, nunca serei como tu. Tantos procuram o amor, tantos o prendem e nós que tínhamos tudo, ficamos sem nada, ficamos desnudos, deitados a isto tudo que afinal de contas não é nada, não é sonhado. Perdemos tempo, perdemos tempo porque quando te conheci parecia que já eras parte de mim, perdemos tempo num tempo que nem sabíamos que passava, poderíamos ter vivido mais, mas o que vivemos deu para tudo o que sou hoje, para tudo o que seremos eternamente porque acredito que afinal não te foste embora, estejas onde estiveres tens sempre o que de melhor eu fui, o que de melhor te dei. Quero apenas descansar, fechar os olhos, trancar as portas de casa e sonhar contigo, porque pelo menos no sonho ainda consigo ser alguém, ainda consigo sonhar como se contigo ainda estivesse. Amo-te...



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