O erguer de um amor...

Caminhava pela rua descalça, molhava os pés naquela noite fria e chuvosa de um inverno perdido no meio do tempo, estava desnuda de roupa e os sentimentos haviam se perdido por entre as ruelas daquela cidade que não era a sua. Entregou-se aos sonhos e roubaram os mesmos dela, entregou-se ao amor mas arrancaram-no de uma maneira brusca e sem piedade daquela mulher que ainda vivia com a ilusão de uma criança, daquela que um dia largou tudo e correu em direcção a um desconhecido que para ela fazia todo o sentido, fazia parte do seu próprio final feliz. Lutou até a ultimo suspiro que o coração conseguiu dar, as feridas eram demasiadas e os sonhos pareciam não ter mais sentido. O que a levou aquele beco sem saída? O que fez ela de errado para caminhar por uma estrada cheia de buracos de que por um areal cheio de vida? Todas as questões atormentavam aquele pequeno mundo dela, todas as perguntas não encontravam resposta e ela entregou o seu corpo ao esquecimento, tal como entregou todas as memórias que ainda a iam movendo, ainda lhe davam uma réstia de esperança num futuro risonho. Desistiu e caiu ali mesmo, naquela rua em que ninguém era de ninguém, em que os vultos passavam mas nunca se encontrava sentimento, sentia-se perdida, as lágrimas já nem as sentia porque há muito tempo que se habituou a viver com elas, aquelas mesmas lágrimas que lhe prometeram nunca iria chegar a verter. Foi então que do meio daquela multidão desprovida de sentimento, daquele mar de gente que nem sequer reparou na dor daquela rapariga que apareceu Jaime, apareceu e pegou na mão dela, trémula, desesperada. Agarro-a com toda a força porque ele próprio sabia o que era perder o mundo, tratou dela, cuidou das cicatrizes físicas e com o tempo foi ajudando a curar todas as outras, aquelas que o coração parecia já não resistir. Passaram tempos, passaram sonhos e a despedida de ambos já nem podia acontecer mais, descobriram que a vida pode ser injusta mas que nos momentos mais degradantes, em que a força já não se dá e em que os corpos entregam-se a uma luta inglória aparece aquilo que podemos chamar destino, aquilo que nos revitaliza não no momento mas sim com o passar das horas e com a recuperação da vontade de viver. Porque o amor assume muitas formas, porque os sonhos podem voltar a erguem-se ela agora apenas sabes continuar em frente, passo-a-passo, sem medo do amanhã, mas relembrando e cicatrizando todo um passado, hoje caminha acompanhada porque no pequeno mundo entrou Jaime e ela já não consegue sonhar a preto e branco porque ele encheu tudo o que havia de cor, aquela cor que ambos vão escrevendo a história dos dois, a história de um amor diferente de todos os outros...

Comentários

  1. Sempre tão suaves, lindas e sentimentais palavras que pairam por seus escritos. O importante é sempre lutar e agarrar os desejos e tudo para conquista-los!

    Um grande abraço.

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