O segredo de uma vida esquecida...

Por entre as paredes deste quarto escorre a humidade de um Inverno esquecido no meio de nada, ancorado a este coração que ainda bate lentamente à espera dos dias quentes, de momentos que se perderam no meio de toda aquela partida sufocante. Ainda conto os dias que te espero, ainda risco nesta parece cada momento que procuro por ti, cada hora que passa em que apenas desejo que entres por aquela porta e resgates o que ainda sobra de mim, deste meu corpo cansado, desta minha incapacidade de sonhar e desta minha forma de sobreviver. Procuro o calor do teu corpo nos lençóis que perderam o teu cheiro, procuro o teu sorriso nos velhos retratos que guardo junto a cama, junto ao que ainda resta de um coração que se desfaz tal como as paredes deste casarão sem vida, deste lar desprovido de amor. Lembro-me dos dias quentes daquele Verão, dos nossos corpos fundidos num prazer tal, espalhados por aquele jardim, a sombra da árvore que assistiu aquele romance desde que ele nasceu, desde que nos conhecemos. Será que ainda te lembras do nosso primeiro beijo? Ainda era-mos umas crianças com tanto para viver, tu querias ser bailarina e eu queria escrever um livro, o livro da nossa vida. Ai tempo! Ai tempo! Volta para trás e arranca-me desta solidão que me enche os olhos de umas lágrimas que já nem eu as sinto, limpa-me o rosto e devolve-me o sorriso que já nem eu me lembro como é. Vida esquecida, amargurada, perdida e toda esta revolta é tão imensa que me submerge nesta vida que nem é vivida, que nem sei como é. Falem-me dos amores românticos, daqueles que vêm nos livros velhos e gastos que ainda vou desfolhando naquelas horas em que a força parece maior e em que o sonho ainda surge, nem que seja por pequenos instantes, nesta minha casa. Chama-me amor mas na verdade não sou mais do que um perdedor, um fugitivo que o destino um dia se esqueceu de ajudar. Falam de amor e eu apenas sei que o perdi, que o perdi no dia em que junto a ti não fui ninguém e separado do teu ser me reduzi a um nada, a este nada que sou, a este nada que já não sabe amar...
Os grandes amores não se fazem de grandes promessas, de grandes ilusões ou até mesmo de grandes modelos. O amor surge de coisas simples, de sorrisos verdadeiros ou até mesmo de olhares cúmplices que no fim de contas não são mais uma irrealidade mas sim a verdade menos inquestionável que conhecemos. Todos gostam de andar pela mão com pessoas que chamem a atenção mas do que vale? Todos gostam de mostrar aos amigos e as amigas que a seu amor é alguém lindo exteriormente e o interior? Todos gostam de ser assobiados e cobiçados na rua, mas e se chegam a casa e o coração continua vazio? Aí sim, acredito que a vida é bem diferente para a quem quer fazer de outra forma, para quem quer a viver segundo os seus sonhos e a sua maneira de ser, porque podes ser gordo, ter um borbulha, usares óculos, usares aparelho mas cada um tem a sua beleza, cada um tem o seu encanto. Não vale a pena ser mais uma réplica da beldade se depois nem sabemos o que é sentir, não vale a pena sermos mais um conquistador se isso não nos serve para nada, não vale a pena andarmos de mão dada com uma rapariga bonita só para todos olharem e dizerem que somos os mais sortudos do mundo. O importante é sentir, viver os sentimentos porque certamente não serão os outros que vão construir a tua felicidade mas sim tu e apenas tu. Por isso falem o que falarem, olhem o que olharem cada um de nós é aquilo que quer ser, cada um de nós acredita e vive o amor à sua maneira e não a dos outros...
Fim...

Comentários

  1. Bom texto! Cada um tem o seu devido valor e só o verá quem conseguir ler pelo coração escondido. Sempre belas as palavras! Um grande abraço, André.

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  2. Oh obrigada andré (...) escreves sempre tao bem *

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