Fugimos hoje?

Embarcamos que nem loucos numa viagem sem direcção, peguei-te na mão e transportei tantos sonhos para aquele momento, para o instante em que largaste o medo e seguiste comigo. Partimos numa carruagem envelhecida pelo tempo, parecia que vivíamos um romance de antigamente, daqueles que se encontram escritos nos livros depositados sobre a minha mesa-de-cabeceira. Seguimos rumo ao desconhecido, as nossas mãos tremiam e, o coração, acelerava a uma velocidade estonteante, a um batimento descompassado, coordenado pela ânsia de viver cada segundo. Olhando nos teus olhos perdia-me na sua cor, na profundeza do sentimento que transparecia, numa retina que se contraia e expandia ao sabor dos beijos dados, dos abraços apertados, do calor que emanava de cada poro da pele. Sentia-te perto, com pouca bagagem mas, o que importava a roupa que nos cobria o corpo comparada com a liberdade auferida pelo vento que sentia-mos a bater no nosso rosto? A carruagem tinha o cheiro a lenha queimada, a paisagem verdejante perdia-se ao olhar e, mesmo ao fundo, entre duas colinas, avistava-se um grandioso mar, imponente, agitado, presente. Não havia rumo naquele dia, as linhas ferroviárias misturavam-se com as linhas escritas, aquelas que te deixava ir lendo, num caderno escrito com a tua presença, com aquela que sentia dentro de mim há tanto tempo. A multidão abeirava-se perto daquele apeadeiro, um homem, aparentemente na casa dos cinquenta anos, passou pelo nosso banco informando-nos que, aquela, seria a nossa paragem. Desembarcamos no meio de um total e desconhecido lugar, a tua pele continuava rosada, talvez pelo frio sentido, ou então pelo calor que emanava do teu ser. Pegamos naquelas duas mochilas e fizemo-nos à estrada, aquele era o nosso primeiro momento, mais que outros primeiros, aquele era nosso, apenas isso NOSSO...

Vem ter comigo, hoje, agora, neste instante,
Vem, pega na mala e nada mais é preciso,
Foge comigo, fugimos assim do mundo e,
Fugindo desse mundo dos outros, encontramo-nos a nós mesmos numa vontade tão nossa...


Fugimos hoje?

Comentários

  1. A fuga pode ser o realizar, e até o consolidar de objetivos da nossa vida.
    É um patamar do nosso amadurecimento.
    A fuga é a aposta, o desafio, a responsabilização, pelos atos envoltos numa profunda incógnita!

    Bom, também vou fugir!!!

    http://diogo-mar.blogspot.com/

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  2. Eita, que romântico! Senti uma paixão furiosa emanando desse texto.

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